George Foreman, o campeão mundial de boxe que virou empreendedor

George Foreman, o campeão mundial de boxe que virou empreendedor

Você muito provavelmente tem um George Foreman grill em casa. Mas talvez não saiba que o senhor corpulento, calvo e sorridente que aparece na embalagem e nas propagandas na televisão foi um dos maiores lutadores de Boxe de todos os tempos, e uma figura inspiradora por sua resiliência e superação no mundo dos esportes e dos negócios. Conheça a história de George Foreman, o campeão mundial de boxe que virou empreendedor.

A infância pobre e raivosa de Big George

George Edward Bill Foreman nasceu em 10 de janeiro de 1949 em uma família pobre na comunidade de Fifht Ward, em Marshall, no Texas, Estados Unidos, o quinto filho de uma família de sete irmãos.  Embora tenha sido criado por J. D. Foreman, com quem sua mãe se casou quando George era criança, seu pai biológico era Leroy Moorehead.

George Foreman foi um jovem problemático, que abandonou a escola aos 15 anos, chegando a passar algum tempo cometendo pequenos assaltos. Mas, aos 16 anos, entendeu que precisava mudar de vida, e convenceu sua mãe a inscrevê-lo no Job Corps, um programa que ajuda jovens com idades entre 16 e 24 anos a concluir o ensino médio, oferece ensino profissionalizante e os auxilia a conseguirem emprego.

Depois de concluir o ensino médio com a ajuda do Job Corps, George Foreman estudou para se tornar carpinteiro e pedreiro. Mas, depois de se mudar para Pleasanton, Califórnia, começou a se interessar por esportes especialmente o futebol americano, idolatrando o lendário Jim Brown.  Mas desistiu em prol do boxe.

Em uma entrevista, Foreman contou que foi literalmente resgatado da sarjeta. “Eu estava me escondendo da polícia”, e no momento seguinte, estava no programa Job Corps recebendo três refeições em um dia. “Eles me transformaram no que me tornei,” afirmou.

Foi no Job Corps que ele descobriu seu talento para o Boxe, conhecendo seu mentor, treinador e figura paterna Charles “Doc” Broadus, que ensinou a futura lenda do ringue, Big George Foreman, a lutar, e a controlar o que o impulsionava, na época, que depois ele entendeu serem sentimentos difusos de raiva e vingança pela condição de extrema pobreza em que cresceu.

Campeão Olímpico de Boxe aos 19 anos

 Tendo encontrado sua verdadeira vocação no Boxe, George Foreman realizou seu primeiro combate amador em 1967, vencendo no primeiro assalto. E ao vencer o campeonato da liga amadora dos Estados Unidos, conseguiu sua vaga na equipe olímpica que iria disputar as Olimpíadas do México no ano seguinte, 1968.

Nos Jogos Olímpicos, Foreman venceu todas as sua lutas, se tornando campeão Olímpico de Boxe aos 19 anos, na categoria peso-pesado, ganhando a medalha de ouro ao derrotar o soviético Ionas Chepulis. Uma vitória que teve um peso ainda maior por acontecer no auge da Guerra Fria.

George Foreman aprendeu cedo a lidar com polêmicas.

Mas a Guerra Fria não era a única questão política alheia ao esporte que tinha reflexos nele. E George Foreman teve de lidar com circunstâncias e situações muito além do seu controle.

Ao vencer a disputa pelo ouro, Foreman comemorou empunhando uma bandeira do seu país, os Estados Unidos no meio do ringue, o que era algo absolutamente normal, visto que ele era um jovem de 19 anos saído da pobreza, que tinha ganho a oportunidade de representar seu país nos Jogos Olímpicos. E tinha vencido!

Mas nesse período, os Estados Unidos estavam envolvidos na Guerra do Vietnã, um conflito altamente impopular, inclusive, e principalmente, dentro dos Estados Unidos. E, internamente, passavam por conflitos raciais bastante sérios. Para se ter uma ideia, os Jogos Olímpicos do México aconteceram apenas 6 meses depois de Martin Luther King ser assassinado em Memphis.

Foram nesses Jogos que no pódio de premiação, os corredores norte-americanos, Tommie Smith, medalhista de ouro, e John Carlos, medalhista de bronze, protestaram levantando os punhos com luvas pretas, durante o Hino Nacional. Uma imagem que hoje é icônica na luta contra o racismo.

Apesar de ser um homem negro no alto do pódio, a atitude de George Foreman foi interpretada por algumas pessoas de uma maneira totalmente diferente, como se fosse de apoio à guerra e ao status quo. Ele contou, anos depois, que era abordado por pessoas dizendo, “George, como você pôde agitar aquela bandeira quando os irmãos passavam por tantas coisas?”

Essa nunca foi a intenção de Foreman, que respondia que agitava aquela bandeira porque muitas pessoas o haviam ajudado, especialmente os veteranos de guerra. E acrescentou “Eu queria agitar aquela bandeira para que todos soubessem de onde eu era. Nunca esquecerei disso, o dia mais feliz da minha vida como atleta”.

A ascensão e queda de George Foreman

George Foreman se profissionalizou como boxeador em uma época em que a categoria peso-pesado do Boxe era extremamente competitiva, e nivelada no alto. Além de Muhammad Ali e Joe Frazier, havia grandes atletas como Ken Norton, Ernie Shavers, Jerry Quarry, Ron Lyle, Jimmy Young e muitos outros. E todos eles eram verdadeiros “popstars”, conhecidos e amados, (ou odiados) pelo público.

Para se ter uma ideia do que era ser campeão mundial de Boxe na categoria peso-pesado nas décadas de 1960 e 1970, o “bad boy” Sonny Liston, que havia perdido o título mundial para Muhammad Ali em 1962 era uma das personalidades retratadas pelos Beatles na capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

A ascensão

A ascensão de George Foreman no Boxe foi como a decolagem de um foguete. Em seu primeiro ano como profissional, 1969, ele lutou 12 vezes, vencendo 11 desses combates por nocaute, sendo que um deles aconteceu aos 23 segundos do primeiro round. Em 1970, Foreman continuou sua busca pelo título mundial, lutando também 12 vezes e conseguindo mais 11 nocautes, e em 1971, venceu 7 lutas atingindo um cartel de 31 vitórias. E nenhuma derrota.

Quando atingiu um cartel de 32 vitórias e nenhuma derrota, George Foreman era oficialmente o número um do ranking da Associação Mundial de Boxe e do Conselho Mundial de boxe. E com essa posição de número 1 entre os pesos-pesados, ele lutou mais 4 vezes em 1972, vencendo todas as lutas, que não passavam do terceiro round, por nocaute!

George Foreman Vs. Joe Frazier – The Sunshine Showdown

O Sunshine Showdown, o “duelo ao sol”, aconteceu em 22 de janeiro de 1973 em Kingston, na Jamaica, quando George Foreman enfrentou outra lenda do Boxe, o campeão Joe Frazier, que tinha tirado a invencibilidade de ninguém menos que Muhammad Ali, quando este voltou de seu banimento do Boxe por se recusar a servir o Exército na Guerra do Vietnã.

Muitos esperavam que a luta com Frazier, que tinha 29 vitórias, 25 por nocaute, e nenhuma derrota, fosse equilibrada. Mas Foreman derrubou Frazier 6 vezes em 2 rounds, sendo o sexto knockdown um soco tão violento que levantou Joe Frazier do chão, fazendo com que o árbitro interrompesse a luta no segundo round. Finalmente, George Foreman se tornava campeão mundial dos pesos pesados!

A primeira defesa de título de George Foreman foi contra o porto-riquenho José Roman, e aconteceu em Tóquio, no Japão. Mas Roman não era um oponente a altura, e foi nocauteado aos dois primeiros minutos do primeiro round.

Mas o próximo adversário era considerado bem mais difícil, Ken Norton! Com um cartel de 30 vitórias e duas derrotas, e um estilo de Boxe estranho, com uma guarda estilo “caranguejo”, Norton havia vencido Muhammad Ali por pontos, quebrando o maxilar do lendário campeão.

Mas Foreman não tomou conhecimento de Norton. A luta que aconteceu em Caracas, na Venezuela, durou apenas dois rounds, com George Foreman vencendo por nocaute.

A queda

Mesmo estando no topo do mundo, poderia se dizer muitas coisas sobre George Foreman, menos que ele fosse uma figura simpática. Diversas vezes ele foi retratado pela mídia como distante e antissocial. Se isso vinha da raiva que o acompanhava desde a infância, ou da influência de seu antigo parceiro de treinos, Sonny Liston, não se sabe. Talvez, ambas as razões.

Mas o que importava é que ele era o campeão mundial dos pesos-pesados. Mas não seria por muito tempo.

George Foreman Vs. Muhammad Ali – The Rumble in The Jungle

The Rumble in The Jungle, a Luta na Selva, como ficou conhecido o confronto George Foreman Vs. Muhammad Ali está entre os eventos mais lendários não somente da história do Boxe, mas da história do esporte.

Realizado em Kinshasa, no então Zaire, atual República Democrática do Congo, The Rumble in The Jungle foi um espetáculo promovido pelo ditador Mobutu Seese Seko, que contou, inclusive, com um espetáculo musical de artistas do calibre de James Brown, e viria a se tornar um livro de Norman Mailer, A Luta, e um documentário vencedor do Oscar em 1996, When We Were Kings (Quando Éramos Reis.)

Ali Vs Foreman – A Guerra Psicológica

Se você acompanha esportes, especialmente de combate, talvez esteja acostumado a ver como, nas vésperas de uma disputa importante, alguns atletas têm o costume de provocar, ridicularizar e até ofender seus adversários, com o objetivo de desestabilizá-los emocionalmente.

O que você talvez não saiba é que um dos maiores especialistas em usar essa tática, de moralidade duvidosa, mas parte dos esportes de competição, conhecida no mundo inteiro como trash talk, foi Muhammad Ali.

 Ali Bom Ba Ye

George Foreman era o grande favorito para vencer a luta, porque havia vencido com autoridade, e até facilidade, os dois únicos lutadores que haviam vencido Ali até então, Frazier e Norton.

Mas Foreman sofreu um corte acima do olho durante os treinamentos , que adiou a luta por um mês. Um tempo que Ali usou para trazer o público do Zaire a seu favor e contra Foreman!

Enquanto Muhammad Ali era o herói, George Foreman foi colocado em um papel de vilão, que precisava ser derrotado, nem que fosse por pontos, como Ali enfatizou. E o estratagema de Ali funcionou. Quando a luta começou, a maioria das 60 mil pessoas que assistiam a luta no Estádio de Kinshasa gritavam Ali Bom Ba Ye, algo como “mate-o, Ali!” na língua Lingala, um dos dialetos falados no hoje Congo.

A estratégia de Ali nessa luta tornou-se lendária. Dançando em volta de Foreman, ele o provocava e aguardava seus ataques, que vinham na forma dos potentes socos.

Mas, Ali, encurralado nas cordas do ringue, utilizava de sua elasticidade para inclinar-se para frente e para trás, desviando-se dos socos de Foreman, protegendo a cabeça para que ele não a acertasse, e revidando com golpes corpo a corpo, com o objetivo de cansar seu adversário, com uma tática que ficou conhecida como rope a dope, algo como “engane um bobo”.

O próprio Foreman conta que começou a luta achando que Ali seria somente mais um que ele iria nocautear. Mas durante toda a luta, ele continuou a provocá-lo, dizendo: “Eles me disseram que você poderia dar um soco, George!” e “Me disseram que você poderia socar tão forte quanto Joe Louis”.

No sétimo assalto, Georg Foreman acertou Muhammad Ali no queixo com força, esperando nocautear. Mas Ali foi para o clinch e sussurrou no seu ouvido: “Isso é tudo que você tem?”

A autoconfiança de George Foreman foi destruída naquele momento, e no oitavo round, Ali tomou impulso nas cordas e surpreendeu Foreman com uma avalanche de socos na cabeça, até que um acertou sua mandíbula. Exausto, ele caiu. Até tentou se levantar, mas o árbitro finalizou a luta. Esta foi a primeira derrota de Foreman. A única por nocaute, em toda a sua carreira.

A aposentadoria

George Foreman foi derrotado por Muhammad Ali em 1974, perdendo o cinturão de campeão dos pesos pesados.

Após um sabático de um ano, o retorno de George Foreman foi uma promoção que deu errado: lutar com cinco oponentes em uma noite, para provar que ainda era um grande nocauteador. Mas quando o público soube que se tratava de atletas menos qualificados, se voltou contra Foreman, aplaudindo os dois últimos que ele, já cansado, não conseguia nocautear.

E para piorar, seu algoz, Ali, estava trabalhando como comentarista do evento. A cada intervalo, Foreman ia até o corner xingar Ali, que respondia orientando os oponentes do desafeto, enquanto a multidão, contrariada, gritava “Ali”, “Ali”, para provocar Foreman. Uma ação de marketing que deu muito errado.

Nos anos seguintes, teria vitórias importantes contra adversários de renome, como Ron Lyle e uma revanche contra Joe Frazier, ambas vencidas por nocaute. Mas decidiu encerrar sua carreira no Boxe aos 28 anos, após ser derrotado por Jimmy Young por decisão dos juízes, em 17 de março de 1977.

A Conversão de George Foreman

George Foreman passou mal em seu vestiário após a luta com Young. Sofrendo de exaustão e insolação, afirmou que teve uma experiência de quase morte, se sentindo em um lugar assustador, de vazio e desespero.  Embora ainda não fosse religioso, ele começou a implorar a Deus que o ajudasse, e afirmou que sentiu Deus lhe pedindo para mudar sua vida e seus hábitos. “Não me importo se isso é a morte – ainda acredito que existe um Deus”, disse ele.

Após essa experiência, George Foreman tornou-se um cristão renascido. Embora não tenha se aposentado formalmente do boxe, parou de lutar e tornou-se um pastor ordenado, inicialmente pregando nas ruas, antes de se tornar ministro da Igreja do Senhor Jesus Cristo em Houston, que ele mesmo construiu, e que incluía um Centro Para a Juventude, onde ele ensinava às crianças.

“Comecei a trabalhar com crianças para garantir que elas permanecessem no caminho certo, ensinando-as a nunca ‘dar um soco com raiva’. Ensinei tanto que comecei a acreditar nisso”, contou Foreman.

Foreman custeou a igreja e o Centro Para a Juventude com o dinheiro que havia ganho no Boxe, mas como ele mesmo admite, naquela época o planejamento financeiro não era o seu forte, e as verbas para manter o centro começaram a minguar, sendo essa uma de suas razões para voltar ao Boxe. A raiva que o havia impulsionado desde a infância cedeu lugar a um propósito.

A volta de George Foreman

George Foreman retornou da aposentadoria aos 38 anos, em uma época em que o mundo do Boxe era dominado por outro nocauteador que aterrorizava seus adversários com socos potentes, Mike Tyson. E seu primeiro adversário na retomada da carreira, em 9 de março de 1987, foi Steve Zouski, que havia sido derrotado pelo próprio Tyson um ano antes.

Foreman nocauteou Zouski no quarto round, o que estava longe de ser um resultado ruim, recebendo uma bolsa de 24.000 dólares, que ele doou para seu Centro de Juventude, atingindo seu primeiro objetivo. Mas as expectativas do público eram de rever o lutador rápido e implacável que demolia seus adversários com facilidade na década anterior. Pesando mais de 120 Kg, Big George teve de enfrentar outro adversário além de Zouski: O descrédito!

Ken Gray, chefe da comissão de boxe da Califórnia, questionou se Foreman teria condições de seguir lutando em alta performance com o estado físico que apresentava, e afirmou que tinha receio do que poderia acontecer com ele enfrentando um adversário mais forte. O próprio Zouski, adversário de Foreman, afirmou que muitos lutadores eram maiores e mais rápidos que ele, e poderiam derrubá-lo.

Foreman não deixou que as críticas o abalassem, respondendo que “nesses 10 anos eu relaxei, fiquei gordo e tive filhos. O que mais você pode esperar de mim?” Ele não mentia para si mesmo, sabendo das condições em que estava, mas ao mesmo tempo conhecia seu próprio potencial, estava confiante do que poderia fazer!

Feliz por estar de volta ao Boxe, antes do início do combate, George Foreman demonstrava estar tranquilo e relaxado. E durante, se mostrou calmo, focado e consciente do que estava fazendo, longe do atleta que, 10 anos antes, assustava seus adversários com a raiva que deixava transparecer.  E ele sabia disso. O próprio Big George conta que ” bati nele com um gancho de esquerda e deixei ele se recuperar. Você pode me imaginar fazendo isso há 10 anos atrás? Acho que não!”

A segunda ascensão de George Foreman

Muitos ainda duvidavam de George Foreman em seu retorno, mas ele mesmo afirmou que queria provar que a idade não era uma barreira para as pessoas alcançarem seus objetivos, que 40 anos não era uma “sentença de morte”, e que ainda tinha lenha para queimar.

E tinha mesmo! No mesmo ano de 1987 ele lutou mais quatro vezes, perdendo peso e melhorando o condicionamento físico gradativamente, ao mesmo tempo em que o nível técnico dos seus adversários ia aumentando.

Em 1988, ele lutou nove vezes, vencendo todos os combates, incluindo um nocaute sobre o ex-campeão das categorias meio-pesado e cruzador que havia subido para os pesos pesados,  Dwight Muhammad Qawi, que jogou a toalha no sétimo round.

Após essa luta, enfrentou mais 16 adversários qualificados, vencendo todos eles, incluindo Gerry Cooney e o brasileiro Adilson “Maguila” Rodrigues, até que em 19 de abril de 1991 enfrentou o também lendário Evander Hollyfield, valendo o cinturão da IBF – Federação Internacional de Boxe.

George Foreman Vs. Evander Hollyfield

Na luta que ficou conhecida como The Battle of Ages, a Batalha das Eras, que foi vendida para  1,45 milhão de consumidores nos Estados Unidos, faturando, 55 milhões de dólares, um recorde,  George Foreman enfrentou Evander Hollyfield em 19 de abril de 1991. A luta durou 12 rounds, com Hollyfield declarado vencedor pela decisão dos juízes. Mas Foreman surpreendeu, aguentando os 12 rounds contra um campeão de altíssimo nível técnico, como Hollyfield, e muito mais jovem.

O interessante disso é que George Foreman, desde sua juventude era o tipo do lutador que partia para cima, gastando muita energia, fazendo com que, nas poucas lutas que foram até o 12º round, ele chegasse bastante exaurido.

Como poderia alguém de mais de 40 anos parecer mais bem condicionado fisicamente do que aos 20? O próprio Foreman atribuiu isso a, desde o seu retorno, lutar mais relaxado, afirmando que no início de sua carreira, sua falta de resistência física vinha de um enorme nervosismo. Ou seja, a idade havia trazido maturidade e inteligência emocional a Big George.

George Foreman Vs Tommy Morrison

Em 1993, George Foreman recebeu outra luta valendo um título mundial, sendo seu oponente, Tommy Morrison, um jovem conhecido por seu soco poderoso, e também por ser sobrinho-neto do legendário ator John Wayne, tendo também uma passagem pelo cinema, interpretando o “vilão” Tommy Gunn no filme Rocky V, protagonizado por Sylvester Stallone.

Morrison recuou durante a luta, recusando uma luta franca com Foreman, boxeando na longa distância. Mas, após 12 rounds, a estratégia de Morrison deu certo, e ele foi declarado vencedor por decisão unânime dos juízes.

Ainda não havia sido dessa vez. Mas a paciência e resiliência de Big George logo iriam se pagar.

George Foreman Vs Michael Moorer

A terceira chance para George Foreman recuperar seu cinturão foi contra Michael Moorer, que havia derrotado Holyfield pelos títulos IBF – Federação Internacional de Boxe e WBA – Associação Internacional de Boxe. Mas quase não aconteceu, porque a WBA não ranqueava Foreman entre os seus candidatos ao título, e não estava disposta a sancionar a luta, alertando Moorer de que seria destituído de seu cinturão se desafiasse a decisão da entidade.

Lutando para poder lutar.

Foreman e seu empresário, Bob Arum tiveram de entrar com uma ação judicial contra a WBA, alegando que discriminavam Foreman por sua idade. Em 20 de agosto obtiveram uma decisão liminar contra a WBA, em que o juiz determinou que, desde que obtivesse autorização médica do estado de Nevada, Foreman seria elegível para lutar pelo título da WBA. Mas a opinião geral era de que Foreman, apesar de ser um nome famoso, que trazia publicidade, não oferecia grandes riscos ao campeão, 19 anos mais jovem.

Foreman Vs. Moorer – a Luta

George Foreman Vs. Michael Moorer aconteceu em 5 de novembro em Las Vegas, Nevada, com Foreman vestindo o mesmo calção vermelho que usou na derrota do título para Ali, 20 anos antes. Mas as semelhanças acabavam aí, com Big George sendo o azarão, não o favorito.

Começou a luta, e Moorer impôs um duro castigo a Foreman, utilizando sua juventude e maior velocidade para golpear com força e em seguida sair do alcance do veterano, que não se conseguia acertá-lo.

No 10º round, Foreman estava perdendo por pontos na contagem de todos os juízes, com dois marcando 88-83 e outro 86-85 para Michael Moorer. Foi quando Foreman partiu para cima do campeão e conseguiu acertar um soco curto de direita, que pegou na ponta do queixo de Moorer, que caiu e, sem conseguir se recuperar, ficou na lona enquanto o árbitro abria a contagem de 10 segundos.

George Foreman nocauteou Michael Moorer, finalmente recuperando o título que havia perdido para Muhammad Ali duas décadas antes. E em uma imagem que entrou para a história do exporte, voltou para o seu canto e se ajoelhou em oração enquanto a arena do MGM em Las Vegas explodia em aplausos.

Os recordes

Com esta vitória histórica, George Foreman quebrou três recordes, que permanecem até hoje.

Tornou-se, aos 45 anos, o lutador mais velho a vencer um campeonato mundial de Boxe

Lutador com maior intervalo entre o primeiro e o segundo mundial, 20 anos.

Diferença de idade entre o campeão e o desafiante , 19 anos.

George Foreman Grill

Depois de se tornar novamente campeão mundial, em uma história que só poderia ser classificada como épica, Big George Foreman era o homem do momento. O mundo falava dele. E foi nesse momento que o campeão mundial de boxe virou empreendedor.

A grelha que tira a gordura dos alimentos

Se você não tem um George Foreman Grill em casa, provavelmente conhece alguém que tem. Essa grelha elétrica que tira a gordura dos alimentos já vendeu milhões de unidades no mundo inteiro. Mas a história de como o lutador e a empresa de eletrodomésticos uniram forças é, no mínimo, interessante!

Leon Dreimann e a Salton

Big George estava 11 quilos acima do peso ideal, e precisava fazer uma dieta rigorosa, ingerindo muita proteína. Leon Dreimann, presidente da Salton, não confundir com a vinícola brasileira, uma pequena fabricante de eletrodomésticos portáteis sediada na Flórida, havia lançado em 1983 uma grelha elétrica para assar carnes em casa, mas o grill não era um produto de sucesso.

Mas ele realmente eliminava a gordura das carnes, e George Foreman falava à imprensa que podia comer 5 hambúrgueres – seu alimento favorito – sem engordar, o que lhe rendeu o apelido de cheeseburger guy” nos Estados Unidos. Ou seja, no início, Foreman fez uma propaganda gratuita para o produto.

Porque o George Foreman Grill tem esse nome

Com o nome de Foreman em alta, a Salton ofereceu a George um acordo em que ele cederia o seu nome para o produto, recebendo por isso o valor de 139 milhões de dólares, além de 40% do valor de cada George Foreman Grill vendido.

Assim, George Foreman conciliou três profissões: A de boxeador, que foi até os 48 anos, quando, após perder para Shannon Briggs, ele se aposentou do Boxe pela segunda vez, a de Pastor, e a de empreendedor e garoto propaganda.

A Fortuna de George Foreman

Com seu carisma, George Foreman vendeu muitos eletrodomésticos. Para quem tinha a fama de antissocial, ele desenvolveu grandes habilidades de comunicação, o que podemos supor que se deve a um amadurecimento emocional e a sua atividade como Pastor, que inclui falar em público e conversar com as pessoas.  E se tornou uma figura extremamente midiática e amada pelo público.

Big George não emprestou apenas a sua imagem ao produto. Ele atuou nos comerciais de TV com genuíno empenho, e gerou receitas de mais de US$ 1 bilhão, que geraram a ele pelo menos US$ 200 milhões em royalties, que, descontados os impostos, deram em torno de US$ 120 milhões. Mais do que o triplo do que ele ganhou nos ringues.

Desde 1999 ele vendeu os direitos de imagem para o produto para a Spectrum Brands, mas continuou anunciando o produto na TV, em troca 138 milhões de dólares. Atualmente, a fortuna de George Foreman é estimada em 300 milhões de dólares.

O Filme de George Foreman

Além de ser retratado em várias produções sobre Muhammad Ali, de quem se tornou amigo, e lamentou muito o falecimento, considerando-o “ o maior de todos”, e “uma figura maior que o Boxe”, George Foreman foi retratado em animações de humor ácido como King of The Hill, de Mike Judge, em que dublou a si mesmo, e Futurama de Matt Groening.

Sua história é inspiradora, e ensina, entre outras coisas, a saber rir de si mesmo. Mas é o tipo de biografia que merecia um livro para virar filme. Livros, ele escreveu vários, como Sem Nunca Jogar a Toalha, de 2007, cujo título em inglês é God In My Corner, Fatherhood, sobre paternidade (ele se casou 5 vezes e teve 12 filhos), e By George, The Autobiography.

Já o filme foi lançado em 2023, e se chama Big George Foreman, The Miraculous Story of The Once and Future Heavyweight Champion of The World, lançado no Brasil como George Foreman: Sua História, e pode ser assistido em plataformas de streaming.