Benefícios do Judô para formar executivos e empreendedores

Benefícios do Judô para formar executivos e empreendedores

O Judô é uma arte marcial japonesa criada por Jigoro Kano em 1882. Uma técnica de defesa pessoal e um esporte de combate que faz parte dos Jogos Olímpicos desde 1964, praticado em muitos países. E além de tudo isso, existem muitos benefícios do Judô para formar executivos e empreendedores, algo que eu posso afirmar com convicção, tendo praticado o esporte por 25 anos e chegado à faixa preta.

Porque o Judô é bom para a educação de qualquer pessoa

O Judô foi criado com base em outras artes marciais japonesas, especialmente o Ju Jutsu, que em japonês quer dizer Arte Suave, por ter técnicas em que o praticante utiliza a própria força e peso do oponente para se defender.

A diferença do Judô para o Ju Jutsu é que o primeiro faz do ensino da técnica, mais do que uma forma de defesa pessoal, uma maneira de educar para a vida, para formar, na falta de uma definição melhor, bons cidadãos. Foi para isso que Kano fundou o Instituto Kodokan, a primeira, e até hoje mais importante escola de Judô do mundo.

O Judô tem três pilares e oito princípios.

Os três pilares são:

Obter a máxima eficiência com o mínimo esforço – seiryoku zen’yo

Obter prosperidade e benefícios mútuos – jita kyoei

Usar da melhor forma a energia –   Ju

Já os oito princípios do Judô são:

Cortesia, para ser educado no trato com os outros;

Coragem, para enfrentar as dificuldades com bravura;

Honestidade, para ser verdadeiro em seus pensamentos e ações;

Honra, para fazer o que é certo e se manter de acordo com seus princípios;

Modéstia, para não agir e pensar de maneira egoísta;

Respeito, para conviver harmoniosamente com os outros;

Autocontrole, para estar no comando das suas emoções;

Amizade, para ser um bom companheiro e amigo.

Independentemente de se gostar, ou não, de artes marciais, ou de qualquer outro tipo de esporte, esses princípios são valiosos para qualquer pessoa, ela seguindo a carreira de executivo, empreendedor, ou qualquer outra, como foi o caso, por exemplo, de Ayrton Senna, que pela sua determinação, resiliência e busca pela perfeição era comparado com um judoca no Japão, o país onde esse esporte foi criado.

Como comecei a praticar Judô

Comecei a praticar Judô aos 8 anos de idade, e me desenvolvi no esporte por 25 anos, chegando à faixa preta. E o que é interessante sobre os treinamentos, especialmente desde criança, é que os princípios pregados por Jigoro Kano, como cortesia, coragem, honestidade, honra, modéstia, respeito, autocontrole e amizade, são introjetados naturalmente no nosso comportamento. São valores de civilidade, que aprimoram tornam a sociedade que os aplica no dia a dia, e considero o primeiro dos benefícios do Judô, do ponto de vista pessoal.

No meu caso, isso se deveu muito ao sensei Eduardo Murta, que teve muita influência na minha formação, sendo quase uma figura paterna. Mesmo não sendo de origem oriental, ele sempre respeitou, e cobrou, esses princípios, assim como o sensei Ricardo Katchborian, muito importante para o meu aprimoramento após minha graduação à faixa preta.

Mas o objetivo desse artigo é explicar os benefícios do Judô para formar executivos e empreendedores, e é sobre isso que vamos nos debruçar agora, pedindo licença ao leitor para inserir algumas experiências pessoais, sem as quais, não faria sentido escrever sobre isso.

O Judô ensina a não perder o foco

Em uma luta de judô é muito importante não perder o foco, por mais que uma situação pareça tranquila, ou controlada. O combate só acaba quando termina. Independentemente de você estar vencendo, muito a frente no placar, se o seu oponente conseguir um ipon, que seria equivalente ao nocaute no Boxe, a luta acabou e você perdeu!

É possível conseguir um ipon projetando o oponente com força, controle e de costas no chão, com uma imobilização, também de costas no chão, ou ainda aplicando uma torção de braço, ou estrangulamento, que o obrigue o adversário a desistir, dando três tapinhas no chão.

O ipon pode acontecer do primeiro ao último segundo do combate. Por isso, um bom judoca não pode perder o foco.

O judoca precisa ter uma atitude proativa perante os desafios

É impossível ser um bom judoca sem ter uma atitude proativa. Quem foge da luta, não se abrindo para tentar projetar seu oponente, o que também oferece a ele a chance de contra-atacar, porque essa é a natureza de um combate, é punido pelo árbitro com as penalidades de Shido, Chui e Keikoku, que são aplicadas consecutivamente.  se o competidor mantiver a postura excessivamente passiva, recebe a quarta penalidade, hansoku-make, e é desclassificado.

Um dos benefícios do Judô para quem busca uma carreira vencedora como executivo ou empreendedor é que quem busca a vitória não pode ter uma atitude passiva, com medo da derrota. O medo é uma reação natural de qualquer ser humano. E quem disser que nunca sentiu medo, provavelmente é um louco. Ou um grande mentiroso. Mas o medo não pode nos paralisar.

Um dos maiores benefícios do Judô é ensinar a ser resiliente

Um dos maiores benefícios do Judô para formar executivos e empreendedores é ensinar a pessoa a ser resiliente. Muito antes do conceito de resiliência, que foi adaptado da Física para a Psicologia chegar ao ambiente corporativo, sendo considerado uma das soft skills mais valiosas,  fazendo parte do que os coaches e mentores tentam ensinar, Jigoro Kano já dizia: a cada queda, me levantarei mais sábio.

Para ser bem-sucedido no Judô, assim como na vida, você precisa aprender a cair. E não é à toa que os ukemis, as técnicas de amortecimento para não se machucar em uma queda, estão entre as primeiras coisas que se ensina em um bom dojô, que é como são chamadas as escolas de artes marciais japonesas.

Independentemente do quão forte, inteligente e bem-preparado alguém seja, em algum momento, pode (e provavelmente vai) sofrer uma queda!

O Judô nos ensina a nos levantarmos das quedas e recuperarmos rapidamente a motivação, para virar o jogo e vencer. Ou seja, sermos resilientes!

O Judô sempre dá oportunidades para os persistentes

Como já falamos, não se pode perder o foco em uma luta de judô. E levar um ipon a poucos segundos do fim é bastante dolorido. Cruel até! Mas a mesma regra do jogo, que não permite que você relaxe e se descuide quando está vencendo, ensina a buscar a vitória enquanto o cronômetro não zerar.

Quantas vezes não é possível ver um atleta que não é o que possui a técnica mais aprimorada vencer, porque busca a vitória até o fim? Quando a técnica e a força faltam, não pode faltar determinação.

Quando falamos dos benefícios do Judô para formar executivos e empreendedores, o ensinamento que o esporte oferece é que sempre há momentos em que as circunstâncias são mais difíceis. Mas esse contexto pode mudar, oferecendo a chance de reverter uma situação que parecia perdida. Sempre há oportunidades para os persistentes!

A lealdade, a ética são fundamentais para se praticar Judô

O Judô é um esporte extremamente competitivo, mas, como em todos os outros esportes, e no mundo corporativo, existe um limite para a, digamos, esperteza. A deslealdade não é bem-vista em um treino ou competição, assim como não é em uma negociação. Há momentos em que é preciso que o vencedor seja reconhecido como o melhor naquele dia.

O Judô fortalece o espírito de equipe

Embora seja um esporte individual, existem muitos aspectos no Judô que são os de um esporte coletivo. Ninguém se desenvolve nessa arte marcial sem ter espírito de equipe, se não estiver disposto a ajudar e ser ajudado. Ensinar e aprender.  Por mais que alguém tenha um talento inato para esse esporte, sempre vai precisar de parceiros de treino de diferentes níveis técnicos e estilos de luta, para poder se preparar para todas as situações.

O judoca cria um espírito de cooperação e concorrência ética

O judoca compete por um time (academia ou clube), que é reconhecida pela qualidade e resultado de seus atletas nas competições. Mas isso não torna os atletas de outras academias seus inimigos, ou adversários fora dos tatames. Inúmeras vezes fui treinar em academias “concorrentes” e fui tratado com um respeito acima do esperado. Uma atitude que sempre fiz questão de honrar quando recebíamos atletas de outras academias.

Essa, inclusive, é uma tradição do esporte mesmo quando ele é praticado no altíssimo nível, o dos atletas que representam seus países em grandes eventos internacionais, como campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos.

Receber apoio para seu aprimoramento de atletas que serão seus rivais nas competições é algo inimaginável na maioria dos esportes. Parece estranho na vida corporativa, mas quando acontece, é algo muito valioso.

Pessoalmente, já passei por situações em que atuei em parceria com executivos de outras empresas, quando ambas tinham objetivos em comum e se criava uma sinergia que beneficiava as duas companhias. Quando as circunstâncias mudaram, nos tornando concorrentes, isso não mudou o relacionamento absolutamente ético e cordial que tenho com esses executivos.

As circunstâncias podem mudar, mas isso não significa que a nossa ética e caráter tem que mudar junto com elas.

O Judô ajuda a desenvolver capacidades de liderança

Um dos maiores benefícios do Judô para mim foi aprender que o desempenho do líder é fundamental para o resultado da equipe. Se o líder não tiver a confiança da equipe e não der o exemplo, a equipe não terá uma performance no máximo de sua capacidade.

Tive a oportunidade de participar 4 vezes das Economíadas, evento esportivo onde as faculdades de administração e economia disputavam diversas modalidades de esporte, representando a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), sendo o capitão da equipe a partir da segunda vez.

Nessa disputa por equipes, 5 atletas de uma equipe enfrentavam 5 atletas da equipe adversária, sem diferenciação de peso ou graduação, e a equipe que vencesse 3 combates passaria para a próxima fase.

Uma vez apresentada a ordem em que os atletas iriam lutar, ela não poderia ser mudada.  Por isso, fazia parte da estratégia tentar prever qual seria a sequência da equipe adversária, de modo a maximizar os resultados da nossa equipe e anular os esforços dos adversários, garantindo que ao menos 3 atletas, não importa quais fosse, vencessem suas lutas e a equipe se classificasse.

Então, a sequência era montada tentando adivinhar qual seria a da equipe adversária, de uma maneira em que nossos atletas mais fracos enfrentassem os oponentes mais fortes, e nossos atletas mais fortes enfrentassem os atletas teoricamente mais fracos da outra equipe.

Assim, tínhamos uma chance maior de que nossos oponentes fossem obrigados a gastar seus melhores recursos contra os nossos atletas mais fracos. E garantíamos que nossos atletas mais fortes enfrentassem oponentes teoricamente mais fracos, evitando, antes da final, um confronto entre os melhores de cada equipe, onde o resultado era mais imprevisível, dada a própria natureza do esporte.

O líder precisa assumir suas responsabilidades

O papel da liderança ia além de tentar antecipar as situações, que tinha o seu grau de imprevisibilidade, porque não se pode esquecer que do outro lado, havia alguém tentando fazer a mesma coisa. A função do líder, neste caso o capitão, é preparar, unir, tranquilizar e motivar a equipe.

Pensando no quanto a experiência traz o preparo psicológico, eu sempre buscava organizar a ordem de entrada dos lutadores de uma maneira que eu e outros mais graduados assumíssemos a responsabilidade maior, liberando os menos experientes do peso de ter que vencer, permitindo que eles tivessem performances melhores, lutando de forma mais natural.

O judoca aprende a deixar a vaidade de lado em nome do objetivo maior

A diferença da competição por equipes para um torneio individual é que o que importa é o resultado do grupo. Hipoteticamente, um atleta mais fraco pode perder todas as suas lutas e ser parte da equipe campeã, porque cumpriu a função importante de fazer as equipes oponentes gastarem contra ele um de seus melhores recursos. E um atleta de altíssimo nível pode não ser campeão, se sua equipe não ganhar lutas suficientes para passar por todas as fases.

Nas competições por equipe disputadas dessa forma, o judoca aprende a deixar a vaidade de lado em nome do objetivo maior. Todos são campeões juntos. Ou perdem juntos. Não há medalhas individuais. Isso significa que um atleta mais forte, que poderia querer se colocar a prova contra os adversários de melhor nível, abre mão desse desejo pelo objetivo coletivo.

O Judô me ensinou a usar a estratégia e o trabalho em equipe

A melhor definição de uma equipe eficiente é quando um grupo tem sinergia e atua em sintonia, de uma maneira que o conjunto é mais do que a soma das partes. E que usando a estratégia, que é uma aplicação da inteligência, podemos superar uma força maior.

Na academia de Judô em que aprendi, ao fim dos treinos o Sensei Murta fazia a esperada “samambaia”, que consistia em uma brincadeira em que éramos divididos em dois grupos, que iriam todos ao mesmo tempo fazer duelos de Ne Waza, luta no solo, em que o objetivo era obrigar o adversário a desistir com um estrangulamento ou chave de braço, as finalizações ensinadas e permitidas no Judô.

O atleta que desistia saia do jogo, e o que permanecia podia ajudar um companheiro de equipe, e assim sucessivamente, de modo que depois de alguns segundos, ou minutos, podia haver dois ou três atletas de uma equipe contra os que haviam sobrado da outra, que geralmente eram os mais fortes e habilidosos em luta no solo.

Parece algo sem sentido, porque jamais haveria um campeonato de “samambaia” fora da academia. Mas a equipe que vencia não era necessariamente a que tinha o melhor lutador, mas a que tinha o melhor líder e a melhor estratégia, para ficar em vantagem numérica mais rápido.

Eram lições uteis, inclusive, e principalmente, para quem pretendia fazer carreira como executivo ou empreendedor. E foi um dos grandes benefícios do Judô na minha vida.