Estamos vivendo uma revolução na qual se presta muito menos atenção do que se deveria, a quarta revolução industrial. E, como nas revoluções anteriores, ela tornará algumas empresas obsoletas e permitirá a ascensão de outras à posição de mais relevantes no mundo. E um dos setores que sofrerá as transformações mais radicais será o financeiro. Nesse artigo , falamos como as empresas do mercado financeiro poderão sobreviver à quarta revolução industrial
O que é a quarta revolução industrial
A quarta Revolução Industrial foi definida por Klaus Schwab, criador do termo, como um mundo no que os sistemas de fabricação virtuais e físicos cooperam entre si de uma maneira flexível a nível global. Ou, traduzindo para termos menos vagos, é uma confluência do desenvolvimento tecnológico feito em paralelo de várias tecnologias, com um efeito altamente disruptivo, que trará grandes mudanças para muitas indústrias e para o modo de vida das pessoas.
Para entender como isso irá funcionar, vamos lembrar rapidamente como foram a primeira, a segunda e a terceira revoluções industriais.
Primeira Revolução Industrial
Ocorreu em 1784, com o surgimento da máquina a vapor. Foi uma revolução porque permitiu que aquilo que já fazíamos, como fabricar tecidos e viajar de navio, acontecesse de maneira muito mais rápida e eficiente, com o tear mecânico e o navio a vapor progressivamente substituindo os teares manuais e os navios a vela.
O que diferencia uma revolução de um simples aumento de eficiência, um conceito que é muito importante que tenhamos em mente, é quando a nova tecnologia permite que se faça algo que não se fazia antes. No caso da máquina a vapor, ela permitiu o surgimento das ferrovias, em 1825, pelas quais era possível fazer viagens e transportar cargas por terra a velocidades inimagináveis até então.
Segunda Revolução Industrial
1870 é considerado o marco da segunda Revolução Industrial a utilização cada vez maior da eletricidade, do aço e do petróleo, permitindo um aumento da produção em escalas nunca antes imagináveis.
Terceira Revolução Industrial
A terceira Revolução Industrial acontece com a informática, quando começamos a programar máquinas e automatizar os processos.
A quarta Revolução Industrial, diferente das três que a antecederam, não é a disrupção causada por um avanço tecnológico, como por exemplo, o surgimento da lâmpada elétrica que acabou com a indústria de lampiões a gás, ou os computadores pessoais, que acabaram com a indústria de máquinas de escrever.
A quarta Revolução Industrial é uma conjunção de avanços tecnológicos quase simultâneos em várias áreas, que vão da inteligência artificial à internet das coisas, passando pela nanotecnologia e até engenharia genética. Tudo isso atuando de forma conjunta, graças a uma internet com capacidade de transmitir uma quantidade cada vez mais de dados, cada vez mais rápido.
Todas as indústrias serão afetadas, mas a do mercado financeiro, justamente por ser uma das mais rápidas na adoção de tecnologia, é o mercado que apresenta mais ameaças e oportunidades.
Como a quarta Revolução Industrial afetou as empresas do mercado financeiro.
Considero o mercado financeiro um dos que mais está se transformando nesta quarta Revolução Industrial. Tecnologias como Blockchain e Inteligência artificial, são disruptivas o suficiente para abrirem caminho para uma verdadeira revolução dos serviços financeiros na América Latina, como poucos poderiam imaginar alguns anos atrás.
Vejam por exemplo o caso dos bancos de varejo. Com muitos players até a década de 1990, com a estabilização monetária trazida pelo Plano Real, houve também uma grande concentração no setor, que até então dependia, entre outros fatores, de uma grande capilaridade, ou seja, de um grande número de agências físicas, em diversas cidades, e da força de suas marcas, que refletiam na confiança dos clientes.
Uma série de fusões e aquisições tornou o setor ainda mais concentrado, com marcas icônicas do varejo bancário, como Real, Unibanco, Banespa, ABN-AMRO e Citybank desaparecendo, o que criou uma verdadeira barreira de entrada para novos concorrentes, pois concorrer no mercado do varejo bancário brasileiro significava um investimento gigantesco em agências físicas para concorrer com players estabelecidos e capitalizados.
O surgimento dos bancos digitais trouxe ao mercado brasileiro novos concorrentes, o que antes parecia altamente improvável, com o benefício de oferecer custos menores com serviços automatizados, feitos por aplicativos de celular. Isso mudou a característica das agências bancárias, que para continuarem justificando sua existência e os custos envolvidos em sua manutenção, precisarão ter serviços de maior valor agregado.
Além do banco digital o open banking, micro investimentos e criptoativos são tendências trazidas pela quarta Revolução Industrial que oferecem desafios para as instituições já consolidadas.
Desafios que quarta Revolução Industrial trouxe ao mercado financeiro.
A quarta Revolução Industrial trouxe ao mercado financeiro uma série de novos desafios, em questões que antes não existiam, ou tinham uma dimensão e um impacto muito menores, como por exemplo:
Necessidade de colaboração de serviços, com conexão entre empresas e serviços financeiros.
Investimento constante em tecnologia, para renovação do parque tecnológico e adição de inovações, que acontecem em velocidade impressionante.
Controle de qualidade adequado às novas exigências dos consumidores
Operacionalidade dos serviços
Confiabilidade dos serviços
Dados como moeda de troca.
Combate a fraudes
Tendências trazidas pela quarta Revolução Industrial.
Se os dados, as informações, se tornaram uma moeda de troca, é necessário ter equipes preparadas para utilizar as informações coletadas para tomar decisões mais inteligentes, oportunizando o crescimento do negócio. Treinar, capacitar e liderar essas equipes demandará cada vez mais tempo e investimento.
Uma vez treinadas as equipes, a transformação digital permitirá que os bancos estejam aptos a propor soluções diferenciadas para cada perfil de cliente.
A personalização de ofertas e serviços, realmente de acordo com as necessidades dos clientes, formatadas para que ele conquiste seus objetivos se tornarão realidade.
Serão caracterizados como bons serviços: a segurança robusta no uso da tecnologia para o mercado financeiro, a rapidez no acesso às informações e a automação dos processos.
Os robôs inteligentes (chatbots) substituirão alguns serviços dos seres humanos, como o esclarecimento de dúvidas simples sobre o negócio. O setor financeiro será um daqueles onde a Inteligência artificial estará mais presente.
A regulação de serviços será focada nas atividades e resultados, e não apenas nos produtos. Também será fortalecido o uso da identidade digital para dar mais agilidade aos procedimentos financeiros.
As empresas vão operar em nuvem e as equipes de TI farão o acompanhamento e o gerenciamento das funcionalidades dos sistemas. Isso propiciará a mudança de processos, erradicando as intervenções manuais das informações.
Conclusão
A quarta Revolução Industrial, como todas as outras revoluções, terá ganhos e perdas, mas, por mais que algumas perdas sejam sentidas e lamentadas, todas as empresas, especialmente e inclusive do setor financeiro, devem se aprender a lidar com elas, porque a única coisa que o avanço tecnológico não trouxe, e nunca irá trazer, é fazer com que os relógios andem para trás, e realidades mudadas por esse avanço sejam restabelecidas.