Sempre defendi que a prática de esportes ajuda na vida profissional. Os treinos e competições nos expõem a situações que são uma espécie de metáfora de desafios e cenários que encontraremos na vida corporativa. Além do futebol e do Judô, um esporte que comecei relativamente tarde, mas foi muito valioso na minha formação pessoal foi o surf. Por isso, vou falar então sobre o que se aprende no Surf que é útil para empreendedores e executivos.
Nunca é tarde para se começar alguma coisa
Cresci em São Paulo, capital, uma cidade que, como todos sabem não tem praia. Embora tenha passado algumas férias e fins de semana em cidades do litoral, e sempre tenha achado o surf interessante, não havia surgido a oportunidade de começar a surfar.
Isso só aconteceu quando, depois de formado administrador de empresas, fui fazer uma especialização nos Estados Unidos, na University of California – San Diego. A Califórnia, pela sua geografia é um local em que, quem está em uma cidade litorânea pode dirigir poucas horas e chegar às montanhas, que durante o inverno, ficam cobertas de neve.
Foi uma oportunidade que aproveitei para iniciar em dois esportes que pratico até hoje, o surf e o snowboard. Nunca é tarde para se começar alguma coisa!
Quando transportamos esse conceito para o mundo corporativo, vale tanto para os profissionais, que nunca podem deixar de se atualizar, se escondendo atrás de frases como “burro velho não aprende”, como de empresas, que sempre tem de ficar de olho em oportunidades, mesmo que outros já estejam, com o perdão do trocadilho infame surfando nelas, enquanto elas não puseram o pé na água.
Quantas empresas não foram entrantes tardios, mas se tornaram players importantes, em diversos mercados?
Por mais que a tecnologia evolua, sempre dependeremos de pessoas
Não se sabe exatamente como o Surf começou, mas estima-se que o ato de surfar uma onda tenha nascido há mais de 3 mil anos na Polinésia, tenha chegado ao Havaí por volta de 1700, quando os pescadores utilizavam as pranchas para ir de seus barcos até a praia, o que foi testemunhado pelo célebre explorador britânico, capitão James Cook, no que teria sido o primeiro contato da cultura ocidental com o Surf.
Precisaríamos de um artigo inteiro para falar de como o Surf foi introduzido na Califórnia no fim do Século XIX e de lá ganhou o mundo. O maior responsável foi Duke Paoa Kahanamoku, campeão olímpico de natação dos 100 m livres nos jogos de Estocolmo 1912 e Antuérpia 1916, que se tornou até ator de cinema, e sempre que podia, utilizava sua fama para apresentar o surf ao mundo.
Duke Paoa Kahanamoku, introduziu o surf na Austrália, que se tornou uma das potências do esporte, e reza a lenda que, em 1917, surfou uma onda de 30 pés de altura por mais de 1,6 Km, em uma prancha de pau-brasil de 16 pés. Considerado um herói no Havaí, Duke foi homenageado com uma estátua na famosa praia de Waikiki.
A tecnologia mudou, evoluiu. As pranchas não são mais feitas de pau-brasil, mas quem faz a diferença são as pessoas que comandam a tecnologia. Isso é algo que se aprende no Surf que é útil para empreendedores e executivos, mesmo em tempos em que muita gente teme ser substituída por uma inteligência artificial. Quem faz a diferença são as pessoas.
O surf ensina a tomar decisões de forma rápida
Tomar decisões, especialmente quando elas não são tão fáceis, e provavelmente terão consequências, é uma situação que aparece com alguma frequência para empreendedores e executivos, e uma das soft skills mais valorizadas nas organizações. Muitas vezes, não temos todas as informações de que precisamos para fazer a análise mais ponderada. Ou o tempo que consideramos ideal.
O que se aprende no surf é a usar inteligência e intuição para decidir em questão de segundos. A linha de ação tomada definirá o que vai acontecer. O surfista aprende a superar desafios e encontrar alternativas para enfrentar as adversidades, tendo como recompensa rápida e imediata, viver experiências maravilhosas em uma prancha.
Analisar cenários e ambiente é algo se aprende no Surf
O surfista precisa de muita dedicação e preparo físico. Assim como de inteligência e intuição. Mas ele não depende só de si. Os estímulos que vêm do ambiente são fundamentais, e no surf se aprende a lidar com eles. Desde uma onda muito fraca de um mar excessivamente calmo, até uma onda muito forte de um mar bravo.
No surf se aprende que o mar é a natureza no seu estado mais imprevisível. Não pode ser controlado, muitas vezes não pode ser previsto, e não dá para negociar com ele. Temos que simplesmente aceitar as condições.
O surfista precisa ter informações precisas
O que se aprende no surf é que, por mais experiente que um surfista seja, cada praia é uma praia, e para surfar nela, é preciso conhecer as condições e como as coisas funcionam, mais especificamente, como o mar se comporta em cada momento. O surfista que se esquecer disso, pode pagar um preço bem alto, porque como já falamos, não há como impor condições ou negociar com a natureza.
Por isso, quando vamos surfar em uma praia pela primeira vez, aprendemos a seguir não somente as convenções sociais e culturais, o que se definiu como a civilidade do esporte ensinam a por exemplo, não cortar a onda de alguém.
Aprendemos com o surf é que quem está acostumado com o local conhece as oportunidades, e os perigos. Em algumas praias, dependendo do lado em que se sai de uma onda, pode se chegar à praia em total segurança, ou ser pego por uma corrente e arrastado por quilômetros, mar adentro.